História

 

Um pouco da história do primeiro pavilhão de crianças do Brasil

 

    No Brasil do início do século XX, a detecção das anormalidades infantis não se justificará por razões escolares (elas estorvam as aulas e contaminam as outras crianças), face à grande precariedade do sistema de ensino fundamental. Não se justificará apenas por razões profiláticas (evitar que se tornem parasitas e perigosas no futuro), mas também por razões econômicas da utilização da mão de obra de seus pais e parentes que, ocupados com elas, estavam impedidos de trabalhar. Daí a necessidade da simples exclusão que começou nos espaços promíscuos dos hospícios. Dadas as denúncias nos jornais daquela época, será então inaugurado em 1903 e consolidado em 1904, o primeiro pavilhão-escola para crianças  chamadas anormais, estabelecimento de práticas especializadas que, durante muito tempo, permanecerá como único no Brasil.
Desde 1897 Teixeira Brandão, diretor do Hospício Nacional (denominação que o antigo Hospício de Pedro Segundo, inaugurado em 1852, tomou após a república) denunciava a necessidade de se separar as crianças numa seção especial para menores. Ano após ano a situação se agravava, até que em 1902, após denúncias na imprensa carioca sobre a precariedade da situação do Hospício, enfatizando a promiscuidade entre crianças e adultos, instala-se uma comissão de inquérito. Como resultado, várias providências foram tomadas e, entre estas, a transferência das crianças em fevereiro do ano seguinte para um “grande chalé junto à antiga lavanderia”, inaugurado em 8 de abril por Juliano Moreira, diretor do Hospício, cujo suntuoso prédio (localizado na antiga Praia da Saudade, hoje Avenida Pasteur)  que atualmente integra um dos campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1904 esta seção de crianças recebe a denominação de “Pavilhão Bourneville”, primeiro e único no Brasil por muitos anos, em homenagem ao médico francês cujo método de educação e tratamento é desde logo adotado pelo Dr. Fernandes Figueira, pediatra e diretor desta seção de crianças por mais de quinze anos.
Ano após ano, os relatórios oficiais registraram a necessidade de acréscimo e a necessidade de criação de um instituto especializado face ao número crescente de crianças enviadas ao asilo.  Não obstante tais relatórios não apresentarem explicitamente os índices de elevação dessas internações, não se pode relacionar este crescimento apenas ao aumento da população do Rio de Janeiro. Outras razões parecem ser mais fortes, além das já apontadas anteriormente. A consolidação do poder médico e o sucesso das campanhas de profilaxia dirigidas à proteção da infância ajudaram a divulgar a necessidade da internação.
Em 1923 Gustavo Riedel, fundador da Liga Brasileira de Higiene Mental, observa a ampliação da rede de inclusão dos asilos infantis, ainda considerada insuficiente, com a criação de seções para crianças anormais na Colônia de Juqueri em São Paulo, e outra no Rio Grande do Sul.
O Pavilhão Bourneville deixou de funcionar em 1942 e a promessa de criação de um estabelecimento público federal para essas crianças jamais foi cumprida. A partir da segunda década (principalmente nos anos 30), com a expansão das redes escolares surgem as primeiras classes especiais nas escolas públicas. A passagem pela escola passou a ser, então, momento áureo da detecção dos anormais através de toda a sorte de classificações e gradações de anormalidade cada vez mais apuradas.

 

 

 

 

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